França - Saint Rémy de Provence (Provence) Bruno Freire14:38 4 comentários

                        Saint Rémy de Provence é, sem sombra de dúvida, minha cidade favorita em Provence. Foi nela que encontrei todos os elementos que permeavam meu imaginário quando se falava nesta região. Uma cidadezinha bucólica, tranquila, de ruas estreitas, onde eu vi, pela primeira vez, os tão famosos e celebrados campos de lavanda e os girassóis, que também são símbolos do lugar. A cidade, além de encantadora, foi palco de importantes eventos históricos, como o de ser a cidade natal de Nostradamus, que ganhou notoriedade mundial por suas profecias; acolheu também o famoso pintor Van Gogh durante um tratamento que fez no monastério de Saint-Paul de Mausole e a até a princesa Caroline de Mônaco se rendeu aos encantos da cidade e a escolheu para viver com seus filhos, por alguns anos, após a morte do seu segundo marido.

Saint Rémy de Provence, a materialização de tudo que sempre imaginei sobre a região de Provence.

                            Você logo notará que está chegando à cidade quando se deparar com um belíssimo corredor de árvores que parece ter sido colocado estrategicamente para preparar o viajante aos encantos reservados por este lugar. 



Saint Rémy de Provence impressionando desde a entrada da cidade.

     A cidade                    

                     Esta cidade de ruas estreitas e vestígios medievais, repleta de casarões com imensas janelas, adornadas com flores multicoloridas, certamente, encantará seus visitantes. São fontes, museus, feirinhas e até resquícios de um Castelo da Idade Média espalhados por este lugar. Todos os elementos necessários para envolver o viajante no típico clima provençal. Foi aqui que, pela primeira vez, respirei fundo e pensei: "Estou em Provence!!!".

As janelas dos casarões de Saint Rémy de Provence, sempre muito bem adornadas, são atrações à parte na cidade.

Elas não passam desapercebidas nem pelos viajantes mais distraídos.



A cidade é tão linda que vale a pena uma caminhada sem pressa por suas ruas estreitas, dignas de um belo cartão postal de Provence.

A maior parte dos casarões do centro da cidade se tornaram museus ou charmosos cafés, como é o caso do Le musée des Alpilles, voltado para a história da Região de Provence. Ele  está localizado no hotel Mistral Mondragon, antiga mansão do período Renascentista e é classificado como monumento histórico desde  1862.



E aqui,  a prefeitura da cidade ostenta o lema da Revolução Francesa: "Liberté, Egalité, Fraternité" (Liberdade, Igualdade, Fraternidade).

                          Agora chega de conversa e vamos direto ao que interessa. Segue abaixo uma lista das principais atrações do centro da cidade,  que não podem deixar de constar nos roteiros de viagem desta região.

1. A Casa onde nasceu Nostradamus (Maison Natale de Nostradamus)

                      Nostradamus, cuja a fama conquistada por suas profecias tem ultrapassado os séculos, nasceu numa humilde casa em Saint Rémy de Provence, no dia 14 de dezembro de 1503. O local fica numa rua muito estreita, de casinhas muito parecidas, mas você apenas conseguirá identificá-la por uma placa indicativa colocada acima da porta.  Antes que você chegue lá e se frustre, é bom saber que a casa não pode ser visitada por dentro. Não me pergunte o porquê. Até as frestas da única porta da casa são vedadas. Apesar de não ser possível analisar como seria o estilo de vida daquela família, de oito filhos, vivendo naquele minúsculo lar, dá pra sentir a magia do local!

Como vocês podem ver, não há exageros quanto à estreiteza das ruas, o que dificulta, um pouco, a identificação da discreta casa onde nasceu o Profeta Nostradamus. Não estranhem se, ao perguntarem indicações sobre esta casa aos moradores locais, eles te respondam com um sonoro: "Acho que é ali". Como assim? Os próprios residentes não conhecem a casa do ilustre filho da cidade? Pasmem!

Mas não se preocupe, embora as ruas sejam estreitas e parecidas, a casa consta no mapa cedido pelo Centro de Turismo Local, como um importante ponto turístico da cidade, e você saberá o lugar certo quando encontrar esta plaquinha em cima da pequena porta de entrada da casa. (Atenção: observe que as janelas são lacradas)

                       

Ao lado da porta também encontramos uma placa com o resumo, do resumo, do resumo da vida e dos feitos de Nostradamus. Aconselho procurarem outras fontes de informações sobre sua história.

É interessante notar que toda a casa foi vedada, inclusive as janelas foram cimentadas. Até essas pequenas frestas da porta foram bloqueadas, por uma  de placa de ferro. Acredito que numa casa minuscula, como esta, não teria muita coisa para se ver, mas confesso que todo esse isolamento aguçou demais minha imaginação.

2. A Fonte de Nostradamos (Fontaine Nostradamus)

                       Essa fonte, mostrada no mapa turístico da cidade, parece enorme, tanto é que eu jurei parecer, no minimo, uma versão equiparada da "Fontana de Trevi", em Roma, mesmo porque eu acho que Nostradamus merecia uma homenagem à altura. Para evitar maiores frustrações, venho aqui antecipar que a fonte é minúscula e bem apagadinha, mas vamos levar em consideração que a cidade é pequena e que o local é carregado de história, então a gente esquece esses detalhes e tira uma foto para registrar o momento.

A Fontaine Nostradamus não faz jus ao homenageado.

3. A igreja de St Remy de Provence ou The Collégiale Saint Martin   

                                         Esta igreja monumental se destaca no meio da pitoresca St. Remy. Ela foi construída no mesmo local onde havia um templo medieval que desabou em 1818. Reconstruída três anos depois, seguiu, predominantemente, o estilo neo-clássico, embora ostente uma belíssima Torre do Sino em estilo Gótico. Mesmo para quem não gosta de turismo religioso, vale muito a pena conferir o interior deste lugar, aqui você encontrará um impressionante Órgão, do século XIV, que é utilizado todos os verões para o Festival Organa, onde os maiores organistas do mundo se apresentam em concertos gratuitos.

A Igreja de Saint Remy de Provence guarda um verdadeiro tesouro do século XIV. Um impressionante Órgão ainda hoje utilizado pelos maiores organistas do mundo.

The Collégiale Saint Martin preserva a torre do sino da antiga igreja do século XIV, único vestígio do antigo templo medieval que desabou em 1818.

                                   

                         Agora precisamos sair um pouco do centro da cidade para continuarmos conhecendo as melhores atrações de Saint Remy. Caminharemos, ou melhor, pegaremos o carro em direção a Glanum, aproximadamente 2 km ao sul da cidade. Não se preocupe com as direções, tudo é muito bem sinalizado. 

 4. Glanum 

                      Glanum foi uma cidade fortificada fundada pelo povo Celto-Ligúria, chamado Salyens, no século 6 a.C. Tornou-se oficialmente uma cidade Romana em 27 a.C, sendo abandonada em 260 d.C. Quando você estiver se aproximando de Glanum, notará, de imediato, à sua direita, dois imponentes monumentos: o Mausoleu de Julii (30 d.C) e o Arco Triunfal (10-25 d.C). Até o século XVI, estes eram os únicos vestígios conhecidos desta cidade desaparecida. Foi a partir do século XVII e XVIII, através de escavações e estudos da área, que o restante da cidade foi descoberta. A boa notícia é que este dois monumentos, além de serem os mais importantes e bem conservados, são os únicos que você poderá conhecer de graça. Aproveite!!!

Mausoleum de Julii - Um dos mausoléus mais bem preservados da era romana. 

Acredita-se que este foi o mausoléu do pai e da mãe, dos três irmãos e governantes

Julii, e que seu pai, por seu serviço militar ou civil, recebeu a cidadania romana e o 

direito de colocar em seus filhos o sobrenome Julii, um dos mais ilustres das famílias romanas.

Arco Triunfal de Glanum - Este arco marca a entrada de antiga cidade. Era um simbolo visível do poder e autoridade romana.

           

 5. Sítio Arqueológico de Glanum. 

                      Do lado oposto onde encontramos os monumentos acima, está o Sítio Arqueológico de Glanum, propriamente dito. Aqui se pode ter uma ideia mais clara de como era a cidade, seu tamanho e entender um pouco da cultura e costumes daquele povo. O lugar parece um quebra-cabeças ao ar livre, praticamente todas as fotos que você for tirar,  será necessário mirar no chão, pois apenas algumas poucas edificações estão de pé ou completas!! Para alguns isso é fascinante, pois dá margem à imaginação para recriar a cidade, para outros, é chato conhecer um lugar que são só ruínas incompletas. Glanum me lembrou muito Delos, na Grécia, onde a visão do turista é só ruínas em um angulo de 360 graus.  Outro ponto importante é que para conhecer este sítio arqueológico é preciso pagar, mas nada de exorbitante, o ticket sai em média por 7,50 euros por pessoa.                           

Em 1921, escavações arqueológicas revelaram a cidade de Glanum. Esta foto é apenas de uma parte da cidade. Apesar do imenso quebra-cabeça de ruínas, muitos espaços são bem preservados, como: os banhos romanos, as colunas do primeiro fórum romano de Glanum, algumas casas helenísticas e rua principal, que corta toda a cidade.

Colunas Coríntias restauradas do Templo Geminado. Ele era dedicado ao culto da família do imperador.

Atrás de mim a foto do que foi o primeiro fórum romano de Glanum, construído por volta de 20 a.C.

Este é o mapa da cidade que você receberá na entrada do sítio arqueológico. Nele dá para se ter uma ideia melhor de como era a cidade. Observe que o Arco Triunfal e o Mausoléu de Julii, que eu circulei de vermelho na foto, ficam relativamente distantes do centro histórico da cidade.

6. St. Paul de Mausole Asylum

                       Depois da casa de Nostradamus, essa é a minha atração favorita em Saint Remy. Aqui funcionava uma instituição psiquiátrica que ficou famosa depois de receber, como seu ilustre paciente, nada menos que o famosíssimo pintor Van Gogh. Durante o ano em que esteve internado, ele pintou uma série de quadros com o que viu e viveu por aqui, este tempo de internação é considerado o maior período de trabalho da história do pintor. O lugar é lindo, de uma paz transcendental e em cada lugarzinho, tem um quadro pintado por Van Gogh, mostrando seu olhar sobre aquele ponto. Simplesmente fantástico! A entrada custa 4 euros por pessoa, valor muito baixo para a experiência proporcionada por este local!

Na entrada do St. Paul de Mausole somos recepcionados por diversas obras de Van Gogh, produzidas no seu período de confinamento no local, como o "Auto-Retrato" pintado aqui em 1889, cujo original está hoje em exposição no Museu d'Orsay, em Paris. 

Um belo caminho de árvores entrelaçadas nos leva à entrada principal do antigo hospital psiquiátrico. Van Gogh veio parar aqui após uma das inúmeras brigas que teve com seu colega e também pintor Gauguin. Durante a briga, Van Gogh tentou acertá-lo com uma navalha e não tendo exito, cortou a própria orelha e deu a uma prostituta. 

Uma estatua em bronze de Van Gogh, segurando girassóis, dá as boas vindas aos visitantes.

Esta é a Igreja de St. Paul de Mausole, também utilizada nas pinturas de Van Gogh. Durante as 52 semanas de confinamento, ele foi inspirado pela beleza do local e das paisagens dos seus arredores, criou 100 desenhos e 152 pinturas a óleo, incluindo o quadro "Vista da igreja de St Paul de Mausole", pintada em outubro de 1889.

O interior da igreja de Saint Paul de Mausole é de uma simplicidade e beleza singulares.

The Cloister ou O Claustro - Apesar de belíssimo, o tratamento aqui era severo. Van Gogh só tinha direito a duas horas de banho, duas vezes por semana, uma dieta regrada. Para se libertar dos vícios: nada de café ou álcool!  

Este é o jardim do pátio cercado por belíssimos arcos.

A casa de banhos dava de frente para este maravilhoso pátio e Van Gogh adorava a vista, tanto que a pintou na primeira semana que chegou a Saint Paul.

 No primeiro andar, um quarto foi reconstruído, retratando, exatamente, o quarto de Van Gogh na época. Tanto ele, quanto os banheiros demonstram como era rudimentar o tratamento dado aos doentes mentais.

Esta era vista dos campos que Van Gogh tinha do seu quarto, em  St Paul, e que o inspirou a pintar diversos quadros, entre eles, os famosos "Enclosed field with rising sun" e o "Wheat Field with Reaper", que aparecem na foto acima, ao lado da cama. Ambos datam de 1889.

Do lado de fora do hospital, mas ainda dentro dos seus limites, estão os campos de lavanda, de trigo e de girassóis. Não há colheita neles, servem exclusivamente para dar um certo charme ao local e estes foram os primeiros cenários escolhidos por Van Gogh para pintar, através da janela do seu quarto, em Saint Paul de Mausole. 

Os famosos girassóis de Van Gogh. Que representam sua chegada ao sul da frança. Sua obra, Doze Girassóis numa Jarra, tornou-se uma das melhores e mais famosas do mundo.

Este é o atual hospital e é claro que não pode ser visitado por dentro, porém, do lado de fora, notamos que foram conservadas suas portas e janelas, imortalizadas nos quadros de Van Gogh. 

Sobre o que encontrei em Saint Rémy, eu diria...

                             Se hoje eu fosse questionado por uma pessoa que dissesse, eu só posso conhecer uma cidade de Provence, qual você indicaria? Certamente eu responderia Sain Rémy de Provence. Apesar de não ser a mais famosa, mas para mim, é a que carrega a verdadeira essência da região. Tudo muito rústico, mas muito acolhedor e belo. São cenários que durante anos vêem fascinando todos os seus visitantes, de mochileiros a princesas, como Caroline de Mônaco, que escolheu essa pequena cidade como lugar para morar. É uma tranquilidade e paz que certamente deixarão marcados de boas lembranças seus dias vividos por aqui. 

                               Se você está viajando por Saint Remy de Provence, não deixe de conhecer Avignon, Châteauneuf du Pape e Orange. Elas ficam próximas e também revelam as inúmeras belezas dessa região mágica que é Provence.